Vegetalidades

A MEMÓRIA
DAS PLANTAS

Texto de Edilene Machado Barbosa e Marcos de Almeida Matos
Híbridas hídricas, série de aquarelas de Efe Godoy

Ela sempre me escreve mensagens longas e, nessa última vez, em 26 de setembro de 2021, contou um caso interessante. Acho que depois disso ela ficou sem acesso à internet, viajando para o alto Envira. Ela parou alguns dias na aldeia, que fica bem em frente ao município, e foi de lá que me mandou este e-mail.

Deixa eu te contar o que aconteceu na sexta-feira passada, daquela conversa que te falei. Eu madruguei de novo, e mesmo sentindo o meu corpo muito leve e a cabeça escancarada pela noitada de ayahuasca, aceitei o convite da velha para ir à beira do rio Envira para conferir se as linhadas deixadas na tarde anterior tinham fisgado alguma coisa. Ainda quis levar caderno e lápis para, quem sabe, anotar alguma ideia ou pelo menos fazer outro croqui, mas fui desencorajada de um jeito meio engraçado: “Larga isso, menina. É de tanto escrever que você esquece o mais importante. Cabeça de papel, letra morta; escreve, que assim não precisa saber mais nada!”. Varejamos então até o poço. De costas para mim e de frente para o rio, ela conferia os anzóis vazios um tanto decepcionada e, entre uma reclamação e outra, começou a explicar outra vez o assunto da conversa de uns dias atrás.

w

Seu pedido

A sacola está vazia

Subtotal
R$0.00