
CEU
Texto de Marcos L. Rosa
Domingo no CEU, André Rosso
O CEU – Centro Educacional Unificado – representa, entre 2000 e 2004, a execução de uma ideia que tem suas raízes em 1920, quando, na escala urbana, a arquitetura das escolas era um dos elementos estruturadores. No século XXI, CEUs foram precisamente implantados num tecido urbano caracterizado pela ilegibilidade e exclusão – uma realidade de desigualdade social em regiões periféricas de São Paulo. O propósito final dessas intervenções era reorganizar um território fragmentado e qualificar os espaços públicos, dotando-os de equipamentos capazes de funcionar como lugares de encontro e coexistência.
O termo “arquitetura do lugar”, usado por Alexandre Delijaicov, faz referência ao método empregado para indicar o endereço no qual o equipamento social deveria ser implantado: onde a ausência do Estado e de serviços públicos era mais expressiva. A “arquitetura do lugar” é um parâmetro para a intervenção na escala metropolitana, com o objetivo de proporcionar bem-estar para as regiões mais pobres. Para cumprir esse objetivo, cada subprefeitura deveria ter uma determinada quantidade de equipamentos urbanos. As subprefeituras totalizam 31. Com base em dados sobre a escassez de infraestrutura e equipamentos, as subprefeituras elegem um critério de localização, apontando lugares onde uma reestruturação territorial se faz possível a partir de intervenções pontuais. Como estratégia, as subprefeituras definem a praça como o ponto de encontro de vários equipamentos públicos.
O plano era construir uma rede em três fases: na primeira, 21 CEUs seriam entregues, outros 24 na segunda e, na terceira fase, seriam rearticuladas as 45 unidades de equipamentos urbanos existentes – hoje desconectados do tecido urbano e sem qualquer significado como um espaço público de encontro e recreio –, mediante a abertura à comunidade dos muros e barreiras físicas. Assim, 96 equipamentos seriam anexados à rede. Cada uma das 31 subprefeituras teria 3 “equipamentos quadrados” ou 3 desses equipamentos urbanos, apoiando a reestruturação do território fragmentado.
Na primeira fase, que durou 18 meses, foram construídos 21 CEUs, com 14 equipamentos cada, num total de 294 novas instalações públicas, localizadas nas zonas periféricas de São Paulo. A “arquitetura do programa” – do equipamento – torna-se a “arquitetura do lugar”, que define o CEU como polo estruturador do bairro e da periferia na rede metropolitana.
Não seria um edifício para cada equipamento, mas um conjunto arquitetônico de dois ou três equipamentos que abraçariam, que desenhariam um núcleo vazio que seria a praça dela, e que abrigaria um conjunto de equipamentos urbanos. “A praça no sentido de ser uma sala de estar na escala da comunidade”. Esta definição da praça tem referência na cultura urbana brasileira como elemento central e organizador de mais de cinco mil cidades existentes.
O CEU como 3 edifícios articulados pela praça estimula as pessoas a viverem juntas no espaço público, a compartilhar e valorizá-lo como espaço comum. A justaposição de atividades não permite isolamento da escola e define um novo terreno para a cidade. A ideia de que “o projeto pedagógico requer atividades sincronizadas” reforça o conceito de “formação do cidadão segundo o conceito de cidade educadora”, o desenvolvimento de um cidadão que se percebe como um agente de transformação no seu mundo.
Colocada em novos recortes geográficos e reenquadrada em realidades diversas, cada implantação estimula a redescoberta do lugar pelo olhar dos seus habitantes. Esse lugar torna-se, assim, um ponto de referência na paisagem urbana, reconhecido como o ponto de encontro em cada vizinhança. Como um implante, ele se torna o ponto de contato e reorganiza as relações humanas presentes em seus arredores: “o CEU constrói uma referência simbólica de identidade iconográfica do lugar público.”
Insere o que até então não existia nos bairros periféricos: “a oportunidade de você encontrar o outro, de passar da contemplação à ação.”

“Tarde de sol. Domingo na periferia de São Paulo. A família toda aproveita o CEU. Uma parte está na piscina, algumas crianças foram ao teatro ou estão assistindo a um show ou a um filme, e outras estão na biblioteca ou no telecentro. A quadra esportiva está cheia e o campeonato de futebol “rola solto”. A pista de skate, nem se fala, nela só se voa”. Maria Aparecida Perez.
Marcos L. Rosa
Arquiteto, professor da ETH Zurich. Organizou o livro Microplanejamento: práticas urbanas criativas (2011).
André Rosso
Fotógrafo e documentarista da Expedição São Paulo 450 anos: uma viagem por dentro da metrópole.
Como citar
ROSA, Marcos, L. CEU. PISEAGRAMA, Belo Horizonte, n. 3, p. 31-32, jul. 2011.