Travessão
Texto de Elisa Marques e Nian Pissolati
Ao longo do ano de 2010, em Belo Horizonte, criamos o Travessão: uma proposta de conversa na rua, construída por aqueles que estão nela no dia a dia e que têm o ônibus como espaço de convívio.
Durante alguns meses, nos deslocamos e nos colocamos em dois lugares com os quais até então tínhamos pouca familiaridade: os bairros São Geraldo e Salgado Filho, situados nos extremos de um eixo leste-oeste da cidade.
A idéia era achar no ritmo diário destes dois espaços uma interseção.
Exercício primeiro: criar uma constância no leste, uma constância no oeste. Exercício segundo: conversar com quem lá vive. Conversa de bairro. Andar na rua, desenhar mapa, ouvir história, andar na trilha do trem, ler dezenas de nomes pichados num muro. Exercício terceiro: conversa entre bairros. As linhas de ônibus 9211 e 9214 ligam os dois lugares. Entre eles está a cidade e no meio do caminho, o centro. Ônibus são ocupados por pessoas que nem sempre se encontram. Onde uns sobem, outros descem. Mas a linha é contínua.
E se, então, valendo-se dos ônibus, os moradores do Salgado Filho e do São Geraldo iniciassem uma conversa? Que mensagens passariam, que vizinhança poderiam construir, tendo a cidade como meio, a rua como superfície de ação?
O Travessão tornou-se então essa conversa, unindo duas pontas da cidade com mensagens coladas nas traseiras dos ônibus. Poesias, fotografias, desenhos, montagens, trocados na cidade, em plena ambulância.
Elisa Marques e Nian Pissolati
Artistas, vivem e trabalham em Belo Horizonte.
Como citar
MARQUES, Elisa; PISSOLATI, Nian. Travessão. PISEAGRAMA, Belo Horizonte, n. 4, p. 32-33, set. 2011.